[caption id="attachment_2181" align="alignleft" width="300"] Crianças e adolescentes das bibliotecas-membro d...
A Releitura - Bibliotecas Comunitárias em Rede faz do coletivo o protesto da jornalista, escritora, atriz, contadora de histórias e produtora cultural, Fabiana Coelho, que também é mediadora de leitura e gestora na Biblioteca Popular do Coque. A carta, que transcrevemos abaixo, foi encaminhada à Comissão Deliberativa do Funcultura, fundo de incentivo à cultura de Pernambuco, ligado à Fundarpe/Secult.
Todas as bibliotecas da nossa Rede, e a própria Releitura - que entrou com projeto de reforma e ampliação do blogue para um sítio, que inclui coleta e preservação da memória das comunidades onde atuam as bibliotecas comunitárias - foram desclassificados no edital 2013. Haveria muito mais o que falar, mas fiquemos com o texto assumido, nominalmente, por Fabiana Coelho, que foi submetido ao exame do coletivo, e postado, em parte, também, no blogue da BP Coque. Ele dá o tom da nossa indignação.
À COMISSÃO DELIBERATIVA DO FUNCULTURA,
PROJETO N° 0526/13: "Manutenção do Projeto de Incentivo à Leitura na Biblioteca Popular do Coque’’
Eu, Fabiana Coelho de Souza Leão, proponente inscrito no Cadastro de Produtor Cultural 2356/11, não pretendo, com esta mensagem, interpor recurso contra decisão proferida pela Comissão Deliberativa do FUNCULTURA,que considerou não aprovado o Projeto Cultural acima citado. Afinal, a mensagem que nos foi encaminhada foi clara ao afirmar que "a pontuação final do projeto é o resultado da média de todas as pontuações por ele recebida, de todos os membros votantes da Comissão Deliberativa do Funcultura, não cabendo a revisão/recurso das notas dada pelo Colegiado responsável pela a nálise".
Diante de tal informação, só o que me resta a fazer é questionar os critérios utilizados para conferir tais notas. A carta que se segue não tem, portanto, nem poderia ter, a intenção de modificar a decisão, mas apenas de expor os motivos pelos quais considero injusta a exclusão de todas as bibliotecas comunitárias, que há anos vem contribuindo com a formação de leitores nas periferias do estado. São projetos que envolvem dezenas de oficinas, apresentações culturais, recitais com poetas diversos, e atividade contínua e constante de mediadores de leitura e contadores de história...
Que valor tem uma biblioteca comunitária para a cultura pernambucana? Uma biblioteca na periferia do Recife, que valor pode ter para a valorização de nossos bens culturais? Para esta comissão deliberativa, não merece nota maior do que seis e um pouquinho. Certamente, não é essa a nota que ela receberia das várias crianças que aprenderam a ler aqui dentro. Ou dos jovens e mulheres que aqui começaram a descobrir o fascinante mundo da leitura. Nem mesmo dos vários artistas que por aqui passaram dando sua contribuição e verificaram o quanto a biblioteca tem ajudado a criar, não apenas uma comunidade leitora, mas uma comuni dade que redescobre a cultura e a arte.
Que falar, então, da qualidade técnica deste projeto? Sua adequação e exequibilidade? A nota, para a comissão, não ultrapassa a média sete... No entanto, desde 2008, independente do apoio governamental, a Biblioteca se mantém ativa e atuante, cumprindo seu papel - graças a valiosa parceria com outras oito bibliotecas, todas excluídas do apoio do governo em 2013.
E, no único ano em que contou com o apoio do Funcultura, quanta coisa foi realizada... Foram recitais, apresentações de teatro e dança, Urso Leitor, Semana do Conto, colônias de férias com oficinas e leituras... e diversas atividades, que não morreram, mas sobrevivem graças ao apoio voluntário de quem acredita no trabalho. Que dizer então da oficina de artesanato? Foi assim que se criou o grupo de leitoras artesãs, as "Fuxiqueiras do Coque", hoje parado - por que não tem como garantir o pagamento da arte-educadora.
Passemos ao terceiro critério... qualificação. A proponente está desde 2008 na Biblioteca como mediadora. Tem um longo trabalho nesta área e participou de todas as formações em mediação de leitura junto ao Instituto C&A. Formação técnica? É jornalista, mestra em Literatura, escritora, atriz, mediadora de leitura e contadora de histórias... Ah! Mas isso não é suficiente para uma nota maior que seis.ponto.seis.Talvez porque seu nome não seja consagrado na cena artística pernambucana...
Para os aspectos sociais do projeto,somente aí, a biblioteca é classificada com nota oito - bem menor que a nota final dos projetos classificados.
Pelo visto, para esta comissão, formar leitores críticos não é uma contribuição social significativa.
Atenciosamente,
Recife, 02/10/2013
FABIANA COELHO DE SOUZA LEÃO